Press release: Dinâmicas entre campos de saberes e seus objetos indisciplinados

Rita Barradas Barata, professor livre docente FCMSCSP, São Paulo, SP, Brasil, e-mail: [email protected]

O convite dos editores da Interface para participar do dossiê sobre os diálogos, articulações e interfaces entre áreas no campo da saúde coletiva foi a oportunidade para refletir sobre as dinâmicas que operam nos vários campos de saber.

A partir da reflexão de cinco autores do século XX – Fleck, Bourdieu, Foucault, Deleuze e Guattari – sobre o fazer científico buscou-se analisar as especificidades da área da epidemiologia no interior do campo da Saúde Coletiva e as relações que se estabelecem entre as áreas.

Ao longo do processo histórico de constituição do campo, foram sendo criadas barreiras, cada vez mais impermeáveis entre as diferentes ciências e disciplinas, as lutas e disputas de poder e prestígio se intensificaram, todavia, sem comprometes a integridade do campo.

Como superar esses compartimentos e limites e enriquecer a reflexão científica no campo? Primeiro, o campo poderia ser organizado não mais por territórios disciplinares e sim por problemáticas prático-intelectuais. Segundo, as derivas metodológicas e teóricas poderiam ser reorientadas distanciando-as da cientificidade abstrata, descarnada e descompromissada. Terceiro, descentralização e quebra de hierarquias falsas entre as problemáticas do campo favorecendo a cooperação, solidariedade e articulação. Quarto, buscar formas de comunicação que ampliassem os coletivos de pensamento centrados mais nas problemáticas e menos nos objetos-métodos de cada disciplina.

Finalmente, ampla revisão dos processos formativos habituando os novos praticantes a agenciamentos mais fluidos e ao trânsito em um campo menos estruturado.

Nenhum desses movimentos é facilmente alimentado e incentivado, além de comportarem riscos na direção de uma indiferenciação entre o saber científico e outros modos de saber, não intercambiáveis.

Enfim, nesse início de século XXI talvez estejamos diante de um momento de ruptura e reorientação de modos de produzir conhecimentos no campo da Saúde Coletiva e da ciência em geral.

Referências:

Fleck L. La génesis y el desarrollo de um hecho científico. Madrid: Alianza Editorial; 1986.

Bourdieu P. Os usos sociais da ciência – por uma sociológica clínica do campo científico. São Paulo: Editora UNESP; 2004.

Foucault M. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Editora Forense Universitária; 2022.

Deleuze G, Guattari F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. São Paulo: Editora 34; 2011. Volume 1.

Leituras complementares:

Barata RB. O campo científico da saúde coletiva. Saúde em Debate, v.46, n.133, p.473-486, 2022.

Martin D, Pereira PPG. Repensar a saúde coletiva e o papel das ciências sociais e humanas em saúde. Interface. Comunicação, Saúde, Ej/icse/a/ducação, v.27, e220395, 2023.

Vieira-da-Silva LM. Subcampos e espaços na saúde coletiva: fronteiras e integração. Interface. Comunicação, Saúde, Educação, v.27, e220380, 2023.

Ayres JRCM. A saúde coletiva e suas áreas: territórios ou aldeamentos? Interface. Comunicação, Saúde, Educação, v.27, e220520, 2023.

Para ler o artigo, acesso em: https://doi.org/10.1590/interface220362

2023 0362