Regina Helena Vitale Torkomian Joaquim, Professor do Magistério Superior, Departamento de Terapia Ocupacional, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos. Rodovia Washington Luiz, s/n., Monjolinho. São Carlos, SP, Brasil. 13565-905 e-mail: [email protected]
Erika da Silva Dittz, Terapeuta Ocupacional, Hospital Sofia Feldman. Belo Horizonte, MG, Brasil.
Lívia Castro Magalhães, Departamento de Terapia Ocupacional, Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, MG, Brasil.
O artigo Maternidade em tempos de pandemia de Covid-19: o que nos revelam as mães atendidas em um hospital de referência, aborda a vivência de mulheres na gestação ou puerpério no contexto da pandemia durante atendimento em hospital de referência.
A maternidade, por si só, acarreta mudanças, criando necessidades ocupacionais que não se referem apenas ao cuidado dos filhos, sendo também influenciada por expectativas e responsabilidades sociais atribuídas às mães. Na pandemia, mulheres no período da gestação, parto e puerpério têm necessidades únicas que demandam diretrizes de saúde e segurança quanto aos riscos do contágio e implicações do distanciamento físico para elas, seu(s) filho(s) e sua família.
Sabe-se que mães e bebês atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ficaram mais vulneráveis durante a gestação e nos primeiros dias após o nascimento, pois o acesso aos serviços de saúde especializados, no contexto da pandemia, foi comprometido, devido à necessidade de reorganização do fluxo e da criação de setores específicos para atender à demanda de Covid-19. Assim, ouvir as mulheres para desvelar suas percepções sobre como a pandemia afetou suas vidas, quais mudanças foram necessárias no período perinatal e nos cuidados ao bebê, bem como identificar suas atitudes e práticas de prevenção de contágio, pode contribuir para melhoria na assistência.
Considerando que entender a perspectiva das mães pode contribuir para disponibilizar informações e adequar o cuidado para responder às necessidades das mulheres, o objetivo do estudo foi conhecer a vivência da mulher em relação à gestação ou ao puerpério no contexto da pandemia de Covid-19.
O estudo foi realizado por pesquisadores docentes da área de Terapia Ocupacional de duas Instituições de Ensino Superior, UFSCar e UFMG, e equipe de profissionais do Serviço de Terapia Ocupacional do Hospital Sofia Feldman.
Estudo qualitativo realizado em maternidade de referência, especializada na assistência à mulher e criança, localizada em Belo Horizonte, MG, que atende exclusivamente pelo SUS, com predomínio de população de baixa renda. Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa de acordo com as determinações da Resolução n. 466/2012 e 510/2016, sob o n. 4.182.769.
A coleta ocorreu de agosto a outubro de 2020 e a pesquisa foi publicada no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação em 2022.
Os dados foram obtidos com uso de questionário demográfico, respondido por consulta ao prontuário da mulher ou do recém-nascido e com entrevista semiestruturada contendo perguntas norteadoras em que participaram 18 mulheres, dez primíparas e oito multíparas, com 19 a 42 anos e escolaridade média de 11,4 (±1,7) anos. Entre as gestantes, o grau de gestação variou de 26 semanas e quatro dias a 35 semanas e três dias. Entre as puérperas, os recém-nascidos apresentavam idade gestacional entre 26 semanas e 39 semanas e 3 dias, com média de peso ao nascimento de 1.487 (±693.25) gramas. A estrutura familiar, em sua maioria, contava com a presença do marido/companheiro e a rede de apoio contava com a mãe, companheiro e familiares.
Os resultados apontam três grandes temas, o primeiro deles, Repercussões na gestação e puerpério, mostra que o contexto pandêmico levou as gestantes a vivenciarem sentimentos como medo, preocupação, ansiedade e insegurança. Sensações, essas, que estão associadas ao desconhecimento sobre a doença, à possibilidade de afetar o bebê, à necessidade de alterações de hábitos e comportamentos; e às restrições ao convívio social. Nota-se que um momento tão desejado e imaginado pelas gestantes e puérperas, importante para a troca de afetos e formação de vínculos por meio do cuidado do bebê, pode ter sido prejudicado pela pandemia, que limitou ou impediu as diversas possibilidades de interação entre as mães e seus bebês.
Outro tema, refere as Repercussões da Covid-19 na vida prática de gestantes e novas mães, indicando que as medidas de prevenção à doença, o uso da máscara e a higiene das mãos, passaram a fazer parte do cotidiano das participantes. Ao responder às demandas para reduzir o risco de contágio, as mães passaram a adotar novas rotinas e hábitos, característicos desse novo cotidiano que provoca mudanças no modo de vida.
Já o terceiro tema, indica as Estratégias de enfrentamento criadas por gestantes e novas mães devido ao contexto da pandemia de Covid-19, apontando as estratégias de enfrentamento relatadas pelas mulheres que contribuíram para favorecer sua saúde mental, como a meditação e cursos com temáticas de seu interesse, ampliando seu repertório ocupacional. Corroborando com as estratégias recomendadas pelas autoridades sanitárias e organizações ligadas à saúde que indicam exercícios e ações que auxiliem na redução do estresse.
Nos relatos ficaram evidentes os ajustes nas expectativas em relação à gravidez e ao parto, as alterações nas rotinas diárias e o distanciamento da rede de suporte, além da frustração e do medo frente ao desconhecido, mas por outro lado, as falas revelam estratégias e cuidados usados para mitigar os efeitos adversos das restrições impostas pela pandemia.
Sugere-se a continuidade de estudos considerando que os dados aqui apresentados se referem a um grupo de participantes com características socioeconômica e cultural semelhantes, já que o acesso às mulheres se deu por sua vinculação a um serviço de saúde que abrange a região periférica e metropolitana de uma capital, mas refletem a população assistida em hospital de atendimento exclusivo ao SUS no Brasil.
Referências
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Para ler o artigo acesso em: https://doi.org/10.1590/interface.210785
Universidade Federal de São Carlos – https://www.ufscar.br
Universidade Federal de Minas Gerais – https://ufmg.br
Hospital Sofia Feldman – https://www.sofiafeldman.org.br
Interface – site: https://interface.org.br/
Interface: Comunicação, Saúde, Educação – ICSE: https://www.scielo.br/icse/