Press release (SciELO): Diálogos sobre sexualidade entre adolescentes e famílias na perspectiva da educação de Paulo Freire

Lucas Vinícius de Lima, Pós-graduando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (Doutorado), Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. 

Gabriel Pavinati, Pós-graduando do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (Doutorado), Centro de Ciências da Saúde, Universidade Estadual de Maringá, Maringá, Brasil. 

O artigo Educação sexual com adolescentes no contexto familiar à luz da (anti)dialogicidade freireana, publicado no volume 27 do periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação, em 2023, discorre sobre os contextos de diálogo e antidiálogo, pautando-se na perspectiva da educação problematizadora de Paulo Freire, acerca da temática sexualidade no ambiente familiar. Para isso, o estudo se ancorou na percepção de adolescentes de 14 a 19 anos, residentes em um município sul-brasileiro.

No contexto familiar, tem sido evidenciada dificuldade na discussão da sexualidade entre pais e filhos. Essa realidade torna-se ainda mais crítica ao considerar-se que a adolescência é uma fase determinante para a adoção de atitudes e práticas que podem perdurar para toda a vida. Para tal, é imprescindível a aquisição de saberes e conhecimentos seguros e corretos por parte dos jovens. Dentre as formas de aprender e ensinar, destaca-se o diálogo, que pode criar e estreitar laços entre os sujeitos para oportunizar esses processos.

Apoiando-se nos preceitos freireanos, o diálogo é tido como um fenômeno humano, que se pauta no encontro de reflexão-ação entre os sujeitos e se concretiza no mundo que será por eles transformado. Para o ato dialógico no sentido emancipatório e problematizador, é necessário que os sujeitos reconheçam as suas situações limitadoras do cotidiano e, a partir disso, cogitem novas formas de pensar e agir para confrontar tal realidade limitante, com intuito de criar possibilidades inéditas de educação.

Pontua-se que esse estudo descritivo-exploratório qualitativo foi realizado por doutorandos e professores do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PSE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Trata-se de um trabalho desenvolvido no período de junho a julho de 2022, com apoio de ferramentas digitais para sua condução. A pesquisa foi idealizada a partir de motivações e reflexões suscitadas em disciplinas eletivas do PSE, que abordaram em suas discussões as temáticas “educação e saúde” e “saúde da família”.

Participaram dessa pesquisa 13 adolescentes, que foram selecionados por meio da técnica bola de neve. Os dados foram coletados em formulário eletrônico a partir de um roteiro com 16 questões abertas que visavam responder à questão: “como têm sido os diálogos sobre sexualidade no seu ambiente familiar?”. A priori, as respostas foram classificadas em dialógicas e antidialógicas e, posteriormente, organizadas com apoio de software de análises textuais, procedendo-se à análise de similitude e à classificação hierárquica descendente.

A partir dos relatos, a sexualidade foi compreendida como contextos sexuais e afetivos da vivência em sociedade. Evidenciou-se que as discussões sobre sexualidade com adolescentes no contexto familiar ocorreram, antagonicamente, de forma dialógica e antidialógica. A dialogicidade relacionou-se a sentimentos de confiança e afinidade, sobretudo com a figura materna, enquanto a antidialogicidade se atrelou a situações de preconceito e conservadorismo, mais evidentes na figura paterna.

Os achados reafirmaram uma posição de extrema fragilidade da discussão sobre esse tema com os adolescentes no ambiente familiar. Embora a figura materna tenha se destacado como uma importante educadora, o contexto limitador perpetuado pela figura paterna, especialmente por influência de aspectos afetivos, culturais, sociais e religiosos, se apresentou como uma problemática desafiadora e persistente. Tal fato implica na necessidade de superar os pretextos antidialógicos historicamente construídos na família.

Esse estudo suscita reflexões para o delineamento de políticas públicas de saúde e educação, pois reiterou a importância de inclusão da família nas estratégias de educação desenvolvidas em escolas e serviços de saúde, bem como ratificou o papel ímpar que a educação problematizadora desempenha na (re)criação de saberes. Nesse segmento, as políticas rumadas à adolescência devem transpor a hegemônica educação antidialógica, ancorada em ideais conservadores, para a dialógica, balizada na relação de confiança entre os atores.

Finalmente, é imprescindível destacar a importância dos programas de pós-graduação e, em especial, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que proporcionou o apoio financeiro aos doutorandos no desenvolvimento da pesquisa. Esse estudo é fruto da pós-graduação e reflete o protagonismo das universidades públicas, gratuitas e de qualidade, na contribuição à ciência e à sociedade. Nessa vertente, sugere-se que estratégias de educação sexual sejam delineadas à luz dos achados dessa pesquisa.

Referências

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 67a ed. São Paulo: Paz e Terra; 2021.

Para ler o artigo, acesse

LIMA, L.V., et. al. Educação sexual com adolescentes no contexto familiar à luz da (anti)dialogicidade freireana. Interface – Comunicação, Saúde, Educação [online]. 2023, vol. 27, e220651 [viewed 12 September 2023]. https://doi.org/10.1590/interface.220651. Available from: https://www.scielo.br/j/icse/a/DGY96d5xYCRFxCYvr4b5LMg/