Nivaldo Carneiro Junior, Professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e da Faculdade de Medicina do ABC, São Paulo/SP, Brasil
Os fluxos migratórios internacionais têm se constituindo como um importante fenômeno social com dimensões quantitativas e qualitativas diferentes e complexas em relação aos períodos anteriores, impactando as sociedades, impulsionando necessidades de políticas públicas nos diversos setores sociais (DIAS, 2007; GOLDBERG; MARTIN; SILVEIRA, 2015; MAURÍCIO, 2009).
Na realidade brasileira as migrações oriundas dos países latino-americanos, particularmente Américas Central e Sul, tem sido significante a partir das últimas décadas do Século XX. A dimensão geográfica do país, estabelecendo fronteiras com boa parte das nações sul-americanas e o grau de desenvolvimento socioeconômico são fortes atrações para esse fluxo. As regiões metropolitanas são polos de oportunidades, nesse contexto a cidade de São Paulo exerce grande influência para vinda desses grupos populacionais, inserindo-se, em sua grande maioria, em precárias condições sociais na sociedade, determinando situações de extrema vulnerabilidade social.
Os setores sociais são extremamente demandados, especificamente o Sistema Único de Saúde (SUS), deparando-se com novas necessidades de abordagem e cuidado, evidenciando limites relacionados aos aspectos sociais, linguísticos e de conhecimento sobre os perfis de morbidade desses países.
É sobre essa problemática que o artigo “Migração boliviana e doença de Chagas: limites na atuação do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS)”, publicado em Interface – Comunicação, Saúde, Educação (2018), analisa no contexto dos serviços públicos na cidade de São Paulo, a partir da população boliviana, um dos maiores grupos migratórios, sendo a doença de Chagas de alta prevalência na Bolívia.
Por meio de entrevistas com 19 profissionais de diferentes categorias (universitário e nível médio) dos serviços de saúde níveis primário, secundário e terciário, pode-se constatar o grau de entendimento a respeito das precárias condições de vida e trabalho dos bolivianos atendidos e perfil de adoecimento. Além desse quadro, o idioma e a cultura do cuidado provocam limites na atenção à saúde. Evidencia-se o desconhecimento epidemiológico sobre a doença de Chagas na Bolívia, como também o manuseio clínico em boa parte dos entrevistados.
Os autores desse artigo expõem, desse modo, a necessidade de estratégias educacionais e de apoio técnico-gerencial para os profissionais de saúde, visando uma atuação mais eficaz no cenário complexo e heterogêneo de determinantes sociais no processo saúde-doença-cuidado dos migrantes.
Referência
MAURÍCIO, I. L. Mais e novos imigrantes: que dificuldades para os profissionais nos Cuidados de Saúde Primários? Rev Port Clin Geral, n. 25, p. 56-64, 2009. ISSN: 2182-5173 [viewed 22 February 2018]. Available from: www.rpmgf.pt/ojs/index.php/rpmgf/article/download/10591/10327
Para ler os artigos, acesse
CARNEIRO JUNIOR, N., SILVEIRA, C., SILVA, L. M. B., and YASUDA, M. A. S. Migração boliviana e doença de Chagas: limites na atuação do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS). Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.64, pp.87-96. ISSN 1807-5762. [viewed 22 February 2018]. DOI:10.1590/1807-57622016.0338. Available from: http://ref.scielo.org/wc3m6p
DIAS, J. C. P. Globalização, iniqüidade e doença de Chagas. Cad. Saúde Pública [online]. 2007, vol.23, suppl.1, pp.S13-S22. ISSN 1678-4464. [viewed 22 February 2018]. DOI: 10.1590/S0102-311X2007001300003. Available from: http://ref.scielo.org/8m5m7y
GOLDBERG, A., MARTIN, D. and SILVEIRA, C. Por um campo específico de estudos sobre processos migratórios e de saúde na Saúde Coletiva.Interface (Botucatu) [online]. 2015, vol.19, n.53, pp.229-232. ISSN 1414-3283. [viewed 22 February 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622015.0194. Available from: http://ref.scielo.org/5ym765
Link externo
Interface – Comunicação, Saúde e Educação – ICSE: www.scielo.br/icse
Como citar este post [ISO 690/2010]: