Um conceituado infectologista pediátrico, examinando um antigo paciente, hoje com 19 anos, faz o diagnóstico de HIV positivo, confirmado por exames laboratoriais.
Autorizado pelo doente, solicita a presença da mãe e faz a comunicação. Ainda angustiada pela urgência do chamado, ela respira aliviada e diz: “Ainda bem, doutor. Pensei que fosse leucemia”.
A surpreendente reação materna poderia estar relacionada ao inadequado conhecimento sobre o HIV e o controle da epidemia de Aids.
Infelizmente, aumentam os casos de HIV e Aids no Brasil.
Os professores Alexandre Grangeiro e Maria Inês Battistella Nemes, da FMUSP, e Elen Rose Castanheira, da Unesp, em artigo na revista “Interface”, da Unesp/Botucatu, alertam que a epidemia de Aids mostra indícios de reemergência.
Temos os piores indicadores e a doença está longe de ser controlada, afirmam os autores.
Desde 2011, o número de casos entre homossexuais voltou a crescer. E a reemergência de Aids no país é evidenciada pela tendência da mortalidade pela doença.
Somente em 2013 foram 12.700 mortes por Aids (média de mais de mil por mês), número similar ao de 15 anos atrás, quando a política de acesso aos antirretrovirais foi implantada.
O autores explicam que a rede de cuidados aos infectados tem sido penalizada pelo subfinanciamento do SUS e o enfraquecimento da resposta à Aids no país.
Julio Abramczyk, médico formado pela Escola Paulista de Medicina/Unifesp, faz parte do corpo clínico do Hospital Santa Catarina, onde foi diretor-clínico. NaFolha desde 1960, já publicou mais de 2.500 artigos. Escreve aos sábados.