(N.66)Um dia com Josi: uma fotoetnografia do cuidado e do cansaço

Um dia com Josi: uma fotoetnografia do cuidado e do cansaço
ALVES, Raquel Lustosa da Costa.

http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622017.0908

Raquel Lustosa da Costa Alves, 2017

A vontade de realizar este ensaio se deu a partir da pesquisa “Microcefalia, deficiência e cuidados: um estudo antropológico sobre os impactos da síndrome congênita do vírus Zika no estado de Pernambuco”, realizada com a professora Soraya Fleischer em abril de 2017, em que eu fui assistente. Essa pesquisa me gerou muitas inquietações no que se refere à saúde de mulheres, mães de bebês com síndrome congênita – um desdobramento do Zika vírus.

Um dos pontos principais que chamou minha atenção foi a rotina intensa dessas mulheres, saídas do interior, de outros municípios ou de cidades vizinhas, uma rotina solitária e cansativa, cuja noção do tempo se perde aos cuidados de um(a) filho(a) com microcefalia. A narrativa visual busca refletir um pouco das condições em que essas mulheres estão inseridas, principalmente a respeito do cansaço: “A gente vem pra tratar dos filhos da gente, não da gente, nós somos psicólogas da gente”, como conta Josilene de Lima, “Josi”, a protagonista deste trabalho.

Josi tem 31 anos, é nascida e moradora de Goiana, interior do estado de Pernambuco, Brasil, sua rotina atualmente é voltada aos cuidados de sua filha Evelyn, de um ano e oito meses, o que inclui no mínimo duas idas a hospitais em Recife, capital do estado. A opção por fotografar apenas uma mãe, entre várias com as quais tive contato, deu-se pela proximidade mais assídua que tive com Josi. E também por pensar em um conteúdo mais elaborado a respeito de uma construção temporal, isto é, café da manhã, consulta, espera, vacina e volta para casa, refletindo sobre cada etapa do seu dia a dia com Evelyn. Em suma, sobre a jornada exaustiva que enfrenta no campo da saúde:

“É uma rotina de muito cansaço. Me sinto muita cansada. Eu fico tão cansada que quando eu chego em casa de viagem eu só quero dormir, eu só tenho vontade de me deitar. A gente precisa de muito apoio, é muita pressão pra gente, a gente merecia uma palavra de consolação”.