Elaine Reis Brandão, Professora associada do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Estudo “Hormônios sexuais, moralidades de gênero e contracepção de emergência no Brasil”, publicado no periódico Interface – Comunicação, Saúde, Educação (v. 22, n. 66), discute a contracepção de emergência que funciona como um objeto “bom para pensar” a respeito do modo como as diferenças de gênero e de moralidades sexuais incidem nas representações e práticas de saúde.
Aprovada há vinte anos no Brasil, essa alternativa contraceptiva continua marginal e sob críticas em decorrência de especulações sobre os efeitos negativos que tais hormônios provocariam aos corpos femininos, condensados na expressão “bomba hormonal” (BRANDÃO et al., 2016, 2017). Cabe lembrar que o aborto seguro segue interditado às mulheres no Brasil e não restam muitas alternativas de cuidados em saúde após uma relação sexual sem proteção ou diante de uma gravidez imprevista.
No entanto, tem sido curioso contrastar a crescente expansão do uso de hormônios sexuais para fins de aprimoramento humano (enhancement), seja na prevenção do envelhecimento, na melhoria de performances sexuais, do humor e bem-estar (CONRAD, 2007).
Coexistem, então, distintos juízos sociais e morais entre as várias modalidades de utilização de hormônios, ressaltados e recomendados, por um lado, e condenados ou aceitos com reservas, por outro. O que está em jogo quando se reforça a “indisciplina” e “irresponsabilidade” das mulheres, em especial, as mais jovens, no tocante ao uso de métodos contraceptivos? O debate sobre contracepção revela sempre uma face perversa da desigualdade de gênero e de classe. Por que não se menciona a responsabilidade masculina com a contracepção? Por que os métodos contraceptivos de longa duração (LARC) surgem no debate público como alternativas à incapacidade das mulheres, jovens e pobres, de se auto-cuidarem? O aprendizado da “responsabilidade” e do “controle de si” é gradual e perpassa as práticas educativas das instituições de saúde e de educação. A proposta de inclusão dos métodos contraceptivos de longa duração para as adolescentes não pode prescindir de considerá-las como sujeitos em processo de autonomização capazes de tomarem suas próprias decisões no tocante ao planejamento reprodutivo.
Referência
BRANDAO, E. R. et al. “Bomba hormonal”: os riscos da contracepção de emergência na perspectiva dos balconistas de farmácias no Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. 2016, vol. 32, no. 9, e00136615, ISSN 1678-4464 [viewed 05 November 2018]. DOI: 10.1590/0102-311X00136615. Available from: http://ref.scielo.org/p94h7g
BRANDAO, E. R. et al. Os perigos subsumidos na contracepção de emergência: moralidades e saberes em jogo. Horiz. antropol. [online]. 2017, vol. 23, no. 47, pp.131-161, ISSN 0104-7183 [viewed 05 November 2018]. DOI: 10.1590/s0104-71832017000100005. Available from: http://ref.scielo.org/vbmq2t
CONRAD, P. The medicalization of society: on the transformation of human conditions into treatable disorders. Baltimore: John Hopkins University Press, 2007.
Para ler o artigo, acesse
BRANDAO, E. R. Hormônios sexuais, moralidades de gênero e contracepção de emergência no Brasil. Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol. 22, no. 66, pp.769-776, ISSN 1414-3283 [viewed 05 November 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622017.0216. Available from: http://ref.scielo.org/bxfzws
Link externo
Interface – Comunicação, Saúde e Educação – ICSE: www.scielo.br/icse
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