Aprimoramento e medicalização no âmbito da Saúde Mental Global, TDAH
Por: Luís Henrique Sacchi dos Santos e Claudia Rodrigues de Freitas, professores na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
Resumo 
Este é o segundo bloco de uma série de três entrevistas realizadas com Ilina Singh — e priorizou aqui a discussão de algumas questões acerca das possibilidades de uso de psicoestimulantes (como a Ritalina) com fins de aprimoramento (enhancement), bem como a questão do TDAH no âmbito da globalização ou da “saúde mental global”.
Um número significativo de crianças, de todas as idades, tem sido identificado com hiperatividade desde os anos 1990 nas escolas brasileiras. Elas têm sido geralmente identificadas e encaminhadas por seus próprios professores (“tidos como legítimos diagnosticadores primários de problemas cognitivos e emocionais das crianças”) aos consultórios médicos mediante a “suspeita” de que estão com TDAH.
Conteúdo
Apresentamos a segunda parte da série de três entrevistas realizadas com Ilina Singh, que, no seu conjunto, exploram aspectos de sua ampla produção acadêmica acerca do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Na primeira parte (v. 20, n. 59, 2016), estão em destaque alguns dos deslocamentos operados ao longo de sua trajetória de pesquisa, os movimentos e as contingências que a levaram a empreender determinados tipos de investigação, bem como a importância de se considerar o TDAH de modo biossocial. Nesta segunda parte, sob o título “TDAH, aprimoramento e medicalização no âmbito da Saúde Mental Global: uma entrevista com Ilina Singh (Parte 2)”, publicado em Interface: Comunicação, Saúde e Educação (v. 22, n. 65), são explorados algumas possibilidades do uso de psicoestimulantes (como a Ritalina) com fins de aprimoramento (enhancement), sendo situado a questão do TDAH no âmbito da globalização ou da “saúde mental global”.
Ilina Singh, desde janeiro de 2015 atua como professora titular de “Neurociências e Sociedade” na Universidade de Oxford/Reino Unido, em uma nomeação conjunta entre o Departamento de Psiquiatria e o Vehiro Centre for Practical Ethics.
Seu trabalho vem examinando as implicações psicossociais e éticas relacionadas ao progresso da biomedicina e das neurociências para os jovens e suas famílias. Nesta direção, sua pesquisa tem vários objetivos: a) investigar os benefícios e os riscos das tecnologias biomédicas e neurocientíficas para as crianças; b) possibilitar a elaboração de políticas embasadas em pesquisas no que se refere à saúde da criança e às ações no campo da educação; c) e buscar um melhor alinhamento entre os conhecimentos produzidos no âmbito da teoria social e da ética com as capacidades sociais, emocionais e comportamentais das crianças. Ilina refere ainda publicação (BERGEY et al., 2017; SINGH, 2006, 2008, 2013) que envolve as dimensões globais do TDAH numa perspectiva sociológica.
Algumas questões se fazem candentes na entrevista como: A Ritalina poderia ser tomada como uma evidência empírica de um tipo de aprimoramento em curso nas escolas, ao menos em termos comportamentais e disciplinares? As drogas estimulantes restringiriam a liberdade das crianças? O diagnóstico de TDAH pode ser interpretado como uma construção cultural que afeta segundo o modo como o concebemos? O fato de termos aprendido a tomar remédios ao longo do século XX, e termos acompanhado e acreditado em seus resultados, contribuiu para a emergência do TDAH como uma síndrome médica nas últimas décadas?
Referência(s)
Dentre os mais importantes projetos de Ilina Singh estão o “VOICES” (Vozes sobre identidade, Infância, Ética e Estimulantes: Crianças se juntam ao debate, financiado pelo Wellcome Trust) e a “SNAPBY” (Levantamento das atitudes e práticas acerca do aprimoramento neural [neuroenhancement] entre os jovens britânicos, financiado pela STICERD).
BERGEY, M. R. et al. (Ed.). Global Perspectives on ADHD: social dimensions of diagnosis and treatment in sixteen countries. Baltimore, Maryland: Johns Hopkins University Press, 2017.
SINGH, I. A framework for understanding trends in ADHD diagnoses and stimulant drug treatment: schools and schooling as a case study. Biosociet., n. 1, p. 439-452, 2006. [reviwed 3 May 2018]. DOI: 10.1017/S1745855206004054. Avaliable from: http://adhdvoices.com/documents/Framework20for20Understanding20
Trends20in20ADHD20Diagnosis-Tx.pdf
SINGH, I. ADHD, culture and education. Early Child Dev Care, v. 178, n. 4, p. 347-361, 2008. ISSN: 1476-8275 [reviewed 3 May 2018]. DOI: 10.1080/03004430701321555. Avaliable from: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/03004430701321555