Rosamaria Carneiro, Professora da Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil
De maneira geral o dossiê nos insere nas relações entre Zika, gênero e assistência à saúde. Mas, amiúde, no interior das casas de mães e de crianças com microcefalia. Nesse mundo, gravitam profissionais de saúde, organizações, associações e instituições de saúde, mas sobretudo mães e crianças informando-nos sobre a vida social do Zika pós-epidemia.
O artigo “Itinerários terapêuticos, cuidado e atendimento na construção de ideias sobre maternidade e infância” de Scott et al. (2018) explora a ambivalência da ideia de maternidade e de infância no contexto recifense do Zika e como as mães e crianças oscilam e tem suas vidas tecidas entre leituras biologicistas e sociais de seus deveres. Dessa maneira, aborda os embates entre medicalização e conjuntura vital.
Já “Cuidados dos tempos de Zika” de Williamson (2018), partindo de Salvador, nos leva ao debate sobre microcefalia, deficiência e tempo. Ao adicionar a temporalidade à vida dessas mães, apresenta-nos a sua relativização e a noção de esperança como o seu avesso: o não esperar nada. Dialoga, para tanto, com as teorias contemporâneas da deficiência e crip time, adensando o diagnóstico do atual cenário.
Em “Zika, protagonismo feminino e cuidado” Moreira, Mendes e Nascimento (2018), a partir de uma pesquisa bibliográfica recente acerca do Zika, aborda o que chamaram de zonas de contato entre as grandes narrativas a respeito da responsabilidade do Estado e as pequenas narrativas, a das mães em seus cotidianos. Analisam, assim, o que mais aparece e o que denominaram de discurso mestiço, o que conjuga ideias de que as crianças são anjos e as discussões sobre deficiência.
Por último, no artigo “Eu não esperava por isso. Foi um susto” de Carneiro e Fleischer (2018), o foco é voltar ao passado e recuperar as estórias de saúde sexual e reprodutiva dessas mulheres, recuperando suas memorias de gestação, de parto e depois de imediato pós-parto para sinalizar as leituras que essas mulheres fazem de contracepção, número de filhos, aborto e gestações futuras.
Diante disso, vê-se que o dossiê nos dá notícias importantes do pós-epidemia de Zika, se é que a mesma existe. Mas mais do que isso cobre uma série de questões até então pouco exploradas nas ciências sociais e humanas em Saúde. O intuito foi abordar a vida social do Zika, sendo que disso despontaram debates sobre gênero, deficiência, cuidado, Estado e protagonismo feminino. Por tudo isso, vale muito a leitura.
Para ler os artigos, acesse
CARNEIRO, R. and FLEISCHER, S. R. “I never expected this, it was a big shock”: conception, pregnancy and birth in times of zika through the eyes of women in Recife, PE, Brazil. Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.66, pp.709-719. ISSN 1414-3283. [viewed 7 November 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622017.0857. Available from: http://ref.scielo.org/5x4pnf
MOREIRA, M. C. N., MENDES, C. H. F. and NASCIMENTO, M. Zika, women’s prominent role and care: rehearsing contact zones. Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.66, pp.697-708. ISSN 1414-3283. [viewed 7 November 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622017.0930. Available from: http://ref.scielo.org/6pms54
SCOTT, R. P. et al. Therapeutic paths, care and assistance in the construction of ideas about maternity and childhood in the context of the Zika virus. Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.66, pp.673-684. ISSN 1414-3283. [viewed 7 November 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622017.0425. Available from: http://ref.scielo.org/qvr7jz
WILLIAMSON, K. E. Care in the time of Zika: notes on the ‘afterlife’ of the epidemic in Salvador (Bahia), Brazil. Interface (Botucatu) [online]. 2018, vol.22, n.66, pp.685-696. ISSN 1414-3283. [viewed 5 October 2018]. DOI: 10.1590/1807-57622017.0856. Available from: http://ref.scielo.org/mkfkyz
Link externo
Interface – Comunicação, Saúde e Educação – ICSE: www.scielo.br/icse
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